Simone Fontana Reis expõe obras no MuBE

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Simone Fontana Reis expõe obras no MuBE

Simone Fontana Reis expõe obras no MuBE
NEOARTE – Soluções Fotográficas para o Mercado de Arte / www.neoarte.net

Artista que pesquisa cultura indígena criou “Nem tudo que reluz é ouro” e “Totem-cupinzeiro”, apresentadas na mostra “Amazônia: Os Novos Viajantes”

A artista Simone Fontana Reis, pesquisadora de florestas e da cultura indígena, apresenta as obras “Nem Tudo que Reluz é Ouro” e “Totem-cupinzeiro”, na exposição de arte e ciência “Amazônia: Os Novos Viajantes”, em cartaz no MuBE – Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia. Os trabalhos provocam reflexões sobre intervenções humanas e a preservação das florestas.

A mostra nasceu de uma pesquisa científica sobre a origem da Amazônia, coordenada pela bióloga Lúcia Lohmann. Contrariando a habitual separação entre ciência e arte, artistas foram convidados a participar de uma expedição de coleta. Sedimentando essa aproximação, apresenta o trabalho científico ao lado de produções artísticas de diferentes períodos, desde os viajantes do século XIX até produções contemporâneas. A curadoria é de Lúcia e Cauê Alves, que reuniram cerca de 30 artistas nesse projeto.

“Nem tudo que reluz é ouro”

A instalação “Nem tudo que reluz é ouro” provoca a reflexão sobre tecnologias e conhecimentos pré-colombianos brasileiros, visando o resgate de valores de etnias amazônicas. A artista incorpora a Terra Preta de Índio e gestos de sua feitura no fazer artístico. Cobre as paredes do espaço expositivo com um composto de Terra Preta e usa réplicas de cacos cerâmicos ancestrais nela encontrados que, transformados em bronze, brilham como o ouro do imaginário europeu.

A obra ressalta, sobretudo, a importância da civilização nativa brasileira e o resgate da nossa cultura. A Terra Preta e os grafismos contidos nos cacos nela encontrados nos remetem ao papel da mulher na sociedade e à preservação da floresta. A artista defende que a tecnologia da Terra Preta indígena era passada de mãe para filha como uma herança silenciosa – informação encontrada no livro Terra Preta, da cientista política alemã Ute Scheub.

A partir de resíduos, restos de alimentos, plantas, excrementos, carvão, cacos cerâmicos e outros componentes submetidos a uma queima filtrada de baixo teor de oxigênio, talvez sem querer ou talvez conscientemente, estas mulheres faziam com que o carbono e os nutrientes ficassem retidos na mistura ao invés de migrarem para a atmosfera, tornando esta terra fertilíssima.

Depositado em potes cerâmicos, esse preparo, ao ser queimado, exala fumaça e tem o poder de regenerar toda a terra ao redor. Eis um poder feminino: a criação de uma terra que nutre e se multiplica, a invenção de uma tecnologia singular, de temporalidade expandida e plena. Por ser um método de sequestro de carbono, esta tecnologia tem grande potencial para reverter o aquecimento global. Dialoga com a antropologia, a agricultura, a ecologia e a sustentabilidade e com problemas crônicos como a pobreza, a fome e a falta de água. Além de questionar noções arraigadas sobre o que é ser civilizado ou o que significa ser uma sociedade desenvolvida.

Simone pontua que “os invasores europeus falharam em reconhecer a importância da Terra Preta e a enorme realização desses nativos. Sedentos por achar ouro, não enxergaram o verdadeiro Eldorado: um método de cultura e estilo de vida totalmente adaptado ao ambiente, à forma como transformavam a paisagem, enriquecendo o solo, nada desperdiçando, selecionando e domesticando espécies, usando a força das águas e seus ciclos, sem fome e sem doenças – bem diferente da realidade da Europa do século XVI.”

O estudo da Terra Preta comprova que a Floresta Amazônica, que por séculos foi idealizada como uma paisagem intocada, inabitada, verde e virgem, é na verdade um imenso jardim cultivado – uma floresta antropogênica que revela valiosos conhecimentos sobre nossos antepassados, seus hábitos, crenças, comportamentos e organização social. Os ameríndios estavam terra-formando a Amazônia, quando Colombo apareceu e interrompeu o processo. Foi por meio da confecção da Terra Preta e o cultivo sustentável, fruto de observação, insights e experiências dos habitantes nativos, que se tornou possível a vida de uma civilização sofisticada e densa na Amazônia por vários milênios.

“Totem-cupinzeiro”

Ao pesquisar florestas, a artista-exploradora se debate inúmeras vezes com áreas desmatadas. São nestas enormes regiões, tentativas de pasto, que os cupinzeiros (montículos de argila construídos por insetos subterrâneos) aproveitam da dupla negligência humana – o desmatamento e o abandono – para se multiplicarem livremente. Essa modificação na paisagem, feita pelo homem de hoje, reflete nossas ações e visões de mundo, desequilíbrio ambiental e manejo inadequado do solo e da pastagem.

Enquanto povos antigos levantavam totens para venerar elementos naturais ou simbolizar traços de sua identidade, o totem cupinzeiro é um monumento ao que acreditamos: gado, desmatamento, abandono, incompetência, pouco caso com a natureza.

Ao empilhar um cupinzeiro em cima do outro, a artista nos remete também ao tempo dos sambaquis, onde a paisagem era intencionalmente modificada através de uma acumulação intencional de materiais naturais visando acreçaÌ?o vertical. Aqui, ela o faz para levantar uma crítica à sociedade e seus comportamentos.

Como Land Art, “Totem-cupinzeiro” surge a partir da integração da natureza e da arte, onde a natureza faz parte da criação artística. Perverte os olhos do público e discute a verticalização das cidades unindo uma engenharia humana sofisticada e contemporânea a um sistema orgânico.

Sobre Simone Fontana Reis

Simone Fontana Reis (1965) vive e trabalha em São Paulo. Formou-se em Administração de Empresas pela UDESC (Santa Catarina) mas não se adaptou a carreira coorporativa. Começou a frequentar o atelier de Leda Catunda e Sergio Romagnolo em 1995, onde desenvolveu seus primeiros trabalhos artísticos e o gosto pela pesquisa, iniciando a curadoria de sua própria coleção. Terminou a graduação na Central Saint Martins College of Art and Design (Londres) em 2002 e o mestrado em 2014 na mesma instituição.

Participou de diversas exposições em: Londres, São Paulo, Nova Iorque e Suécia, onde viveu por 8 anos e teve dois filhos. Entre elas destacam-se: Foreign Bodies (2001) – colaboração com cientistas da London School of Tropical Medicine (London), onde foi premiada pela instituição, The Seeds Dance (2004) – Festival de Cultural Britânica no Brazilian British Centre, também premiada pela instituição (São Paulo), Stensjöhill Mansion (2012) – sua primeira individual na Suécia, HOT ONE HUNDRED (2013) na Schwartz Gallery (Londres), New Sensation (2014) na Saatchi Art (Londres), Nem tudo que reluz é ouro (2017) no Paiol da Cultura (Manaus), Pele D’Água (2017) na Qualcasa, parceria com o Grupo Hermes (São Paulo), Salões Paranaense, de Ribeirao Preto e de Londrina (2017) e exposição coletiva Os Novos Viajantes (2018) no MUBE com curadoria de Cauê Alves. Participou da Residência Artística LABVERDE Arts Immersion in the Amazon (2016) na Amazônia e co-organizou a residência Acaia_Kadiweu (2017) na região do Pantanal com apoio do Instituto Acaia. Recentemente iniciou pesquisa para co-curadora de exposição sobre o grafismo indígena no inconsciente coletivo contemporâneo, prevista para acontecer no Memorial da América Latina em 2019.

Seus trabalhos e praticas artísticas são interdisciplinares e exploram fronteiras entre a pintura, esculturas, instalações e vídeo. Simone acredita no resgate da história ameríndia e na forma como estas culturas se relacionavam com a natureza. Há 20 anos, pesquisa florestas e orquídeas. Três vezes visitou a aldeia Kadiweu Alves de Barros no Brasil Central, onde confrontou sua pesquisa teórica sobre grafismos indígenas e pintura corporal com vivencias desta pratica milenar executada exclusivamente por mulheres sul americanas.

Serviço

Simone Fontana Reis em “Amazônia: Os Novos Viajantes”

Obras: “Nem tudo que reluz é ouro” e “Totem-cupinzeiro”

Local: MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia. Rua Alemanha 221, SP.

Data: Ter – Dom, das 10h às 18h, entrada franca.

Encerramento: 29 de Julho de 2018

Informações para a imprensa:

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