Galeria Berenice Arvani resgata obra de Teresa Nazar
Autora de uma produção arrojada, a artista argentina radicada no Brasil foi um dos expoentes dos anos 1960, tendo incorporado a seus trabalhos elementos da Pop Art
O Ônibus, 1975 | Teresa Nazar | Créditos: Fernando Silveira/Faap
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Teresa Nazar compreende a configuração estética e social dos anos 1960: um tempo dinâmico, marcado pelo avanço da tecnologia que revoluciona o cotidiano e une sentimentos que interferem no processo criativo dos artistas, transcendendo o particular para se projetar no universal. Argentina radicada no Brasil, a artista é assim definida por João Spinelli, curador que assina a exposição Teresa Nazar – Liberdade e Ousadia nos Anos 60, realizada pela Galeria Berenice Arvani entre 27 de março e 26 de abril.
Primeira individual de Teresa de caráter comercial realizada nas últimas décadas, a mostra apresenta ao público um conjunto de 16 obras, a maioria delas pinturas às quais se somam uma série de materiais não-convencionais: placas de metal dobradas, recortadas e arqueadas, tecidos, gesso, resina, parafusos e plásticos.
“Objetos subtraídos do cotidiano, industrializados, são apropriados como matéria de ressignificação poética. Destituídos de seu destino original, desprovidos de qualquer tipo de glamour, ganham uma nova potência quando migram para a arte. Denunciam o estado efêmero da vida, ressignificam valores”, afirma Spinelli.
Os trabalhos chamam atenção pela riqueza de texturas. Pintora e desenhista exímia, Teresa adota pouco a pouco elementos que dinamizam sua obra, inicialmente de caráter expressionista. Em seus quadros, nota-se a incorporação de uma nova figuração, de influência do pop. Perfeitamente integrados à composição, os elementos utilizados adquirem certa autonomia, de aparência inesperada, incomum. Perceptíveis, as emendas ressaltam não apenas a precariedade desses materiais, mas da própria humanidade.
“Há muito tempo – por necessidade e obrigação – acabei com a pintura de cavalete. Creio nos materiais que procuro e utilizo, porque através deles chego a concretizar um pedaço do tempo no qual existi”, comentou a artista em setembro de 1966, em entrevista ao Jornal do Brasil. Não por acaso, muito críticos inserem a produção visual de Teresa Nazar como pertencente ao movimento da Pop Art. Para a artista, entretanto, o rótulo não lhe cabia. “Minha arte é bem distinta daquilo que os pop-art americanos mostram em suas obras, pois, sendo o artista o termômetro de sua época, ele retratará os símbolos do mundo que o rodeia dentro de seus limites geográficos”, afirmou na mesma ocasião.
“Mais do que Pop, Teresa foi uma artista Camp“, afirma Spinelli, referindo-se à estética comumente ligada ao exagero, em uma crítica direta ao consumismo excessivo típico da classe média. “Ao mesmo tempo, não podemos negar que muito de seus trabalhos tangenciam conceitualmente o Pop: Teresa sintonizava essa transformação da arte ao incorporar os elementos da cultura popular em suas obras”, completa o curador, definindo a produção da artista como uma espécie de “pop dos trópicos”.
Enquanto os americanos voltavam-se ao registro de celebridades e produtos de uma sociedade marcada pelo consumo desenfreado, Teresa retratava cenas comuns do dia a dia, como em O Ônibus, (1975), quando traz uma série de passageiros sentados lado a lado, e na obra sem título da série Mulheres (início da década de 1970), com um trio de mulheres em uma cena que nos remete a um samba ou um baile de carnaval. Já na série Astronautas(1966), a artista deixa o cotidiano mais próximo para trazer à tona um tema que se discutia nas TVs e jornais da época, a corrida espacial.
Além das pinturas, a exposição traz uma peça icônica, também da série Mulheres: Objeto (década de 1960), integrou a exposição Coletiva Oito Artistas | Apeningue – brincadeira com o termo happening, do inglês -, realizada pela galeria paulistana Atrium, em 1966.
Sobre a artista
Nascida em Mendoza, na Argentina, Teresa Nazar (1933 – 2001) formou-se professora de Artes Plásticas na Universidade Nacional de Cuyo, onde também lecionou Desenho e Pintura. Participou de exposições coletivas e individuais em sua cidade natal e também em Buenos Aires.
Em 1961, mudou-se para São Paulo depois de ganhar uma bolsa de intercâmbio. Findado o período enquanto bolsista, decidiu aqui permanecer e fincar raízes. Na época, conheceu o também artista Nicolas Vlavianos, grego radicado no Brasil, com quem se casaria tempos depois. Seguiu então suas atividades didáticas e artísticas. Em pouco tempo, ganhou o reconhecimento da crítica de arte paulista, distinguindo-se pela contemporaneidade de suas criações.
Nos anos 1960, participou das principais manifestações de vanguarda das artes plásticas brasileiras: do primeiro happening de São Paulo, ao lado de nomes como Antonio Dias, Carlos Vergara, Hélio Oiticica e Rubens Gerchman; do Grupo Rex com Wesley Duke Lee, Nelson Leiner, Geraldo de Barros, entre outros; de importantes mostras organizadas por Walter Zanini, no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; e, inclusive, de Bienais de São Paulo – as de 1965 e 1967. Nesta última, também conhecida como a “Bienal da Arte Pop”, suas obras foram destacadas pela ousadia formal, técnica e temática incomuns, paralelamente à produção inovadora da representação dos Estados Unidos, que na ocasião trouxe obras de Jasper Johns, Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Robert Rauschenberg.
Por muitos anos, foi professora da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP, instituição que em 2005 organizou uma retrospectiva de sua obra. Atuou ainda como diretora da galeria Multipla, atividade que levou até seu falecimento, em 2001.
Sobre o curador
Historiador e crítico de arte, mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), livre-docente pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Desde 1987, atua como curador de exposições de arte brasileira em museus e espaços culturais nacionais e internacionais, entre as quais Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea (MAC USP); Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); Museu de Huelva, da Espanha; Contemporary Art Foundation, dos Estados Unidos; Montserrat Gallery, também dos Estados Unidos; Centro Cultural da Recoleta, da Argentina; Biblioteca Mário de Andrade; Centro Cultural São Paulo; Memorial da América Latina, entre outros.
Além de historiador e crítico, atuou como professor na Faculdade de Artes Plásticas – FAAP/SP; Instituto de Artes da UNESP/SP e Escola de Comunicações e Artes – ECA/USP, onde orientou dissertações e teses de doutorado.
Foi ainda autor e organizador de 20 livros com destaque para Informelle Kunst in Südamerika (Editora Museumam Ostwall. Dortmund); Arte Pública – Apontamentos e Reflexões (Unesp); O Olhar de Sérgio Milliet sobre a Arte Brasileira (Secretaria Municipal de Cultura); Takashi Fukushima (USP/EDUSP); Antonio Carelli – visualidades de um artista em constante evolução (Bei Editora) e Alex Vallauri – Graffiti(Bei Editora).
É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA) e integra ainda associações de pesquisas da Universidade de Dortmund, na Alemanha, e da International Research Centre for Japanese Studies, em Kyoto, Japão.
Serviço
Exposição Teresa Nazar – Liberdade e Ousadia nos Anos 60
Local: Galeria Berenice Arvani
Endereço: Rua Oscar Freire, 540 | Jardins
Abertura: 26 de março, a partir das 19h
Período expositivo: de 27 de março a 26 de abril
Dias e horários de visitação: de segunda à sexta, das 10h às 19h
Contato: (11) 3082-1927 | 3088-2843
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Informações para a imprensa
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