Pinacoteca apresenta panorama dos 30 anos de carreira de Fernanda Gomes
30/nov – Fernanda Gomes na Pinacoteca
Formada pela Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro, Fernanda Gomes figura, hoje, entre os artistas contemporâneos do Brasil com maior inserção e prestígio internacionais. Sua prática caracteriza-se pelo uso de materiais ordinários — como gesso, madeira e vidro — submetidos a operações manuais como amarrar, juntar ou apenas posicionar e espalhar no espaço. Esses itens são recolhidos da vida doméstica da artista e durante suas andanças pelas ruas e galerias e instituições onde expõe sua produção.
A exposição na Pinacoteca, que tem patrocínio do Itaú, concretiza-se após dois anos desde o convite da instituição. Ao longo desse período, Gomes desenvolveu um plano de ocupação dos espaços, que incluía tanto determinações quanto aberturas para a improvisação, projetando soluções expográficas específicas para cada ambiente. “Daí a manifestação de um processo exigente, meticuloso, que vai além de uma reunião de obras”, define o curador.
O resultado final surgirá após três semanas de trabalho de montagem, durante o qual a artista se colocará em atividade contínua pelas sete salas expositivas, instalando, assim, uma espécie de ateliê temporário, não aberto ao público, procedimento adotado de forma usual por ela. O conjunto apresentado inclui desde trabalhos mais conhecidos — como as esferas de cravos e linha, uma extensão de papéis de cigarro fumados e justapostos, as pinturas feitas com tinta e papel, e algumas de suas esculturas cinéticas — a obras inéditas que serão concebidas in loco.
A total ausência de significação — nem a exposição nem as obras têm nome — com peças pintadas de branco (“essa cor que é todas e nenhuma ao mesmo tempo”, explica Ribeiro) acaba por preservar o aspecto indefinido e instável do conjunto. “As peças tampouco estão identificadas pelas usuais legendas do museu, o que, em última instância, favorece as possibilidades de conexão entre uma e as outras, entre todas e o entorno, sem datá-las nem descrever materiais comuns ou técnicas peculiares, que requerem mais perícia ou labor do que método”, complementa.
A produção institui, assim, as próprias condições de sua exibição: com um sentido forte de unidade, a fim de propor uma experiência integral sem chance de repetir-se, nem em outro tempo ou espaço. Também por essas razões, a famosa dicotomia entre arte e vida é um tópico recorrente nas reflexões de Fernanda Gomes. Em entrevistas e textos de sua autoria, as declarações da artista a respeito do assunto apontam para uma indiferenciação entre as duas noções. Para ela, “as coisas são e estão misturadas”, de forma que “a diferença entre objetos de arte e objetos comuns ainda aparece como um mistério”.
A mostra ocupa um importante papel na programação de 2019 do museu, que vem apresentando, desde o início do ano, uma sequência de artistas pioneiros — Ernesto Neto, Artur Lescher, Hélio Oiticica, entre outros — que contribuíram para expandir o conceito de escultura. A realização desta exposição só foi possível graças ao apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
CATÁLOGO
Fernanda Gomes é acompanhada de um catálogo especialmente concebido pela artista como continuação de sua exposição na Pinacoteca. Da mesma forma que a mostra, as obras são apresentadas como parte de um grande roteiro. “Cada peça se mostra como protagonista de uma linha de pensamento, sempre ativada pelo próprio contexto, e em diálogo com a obra anterior e posterior”, explica Volz. Inclui introdução do diretor geral da Pinacoteca Jochen Volz e texto do curador José Augusto Ribeiro. Português e inglês.
SOBRE FERNANDA GOMES
Nascida em 1960, Fernanda Gomes vive e trabalha no Rio de Janeiro. A artista acaba de realizar uma grande exposição no Secession, Viena, Áustria, em seguida à ampla mostra no Museo Jumex, Cidade do México, México, em 2018. Em 2016, seu trabalho foi selecionado e incluído no livro Vitamin P3: Novas perspectivas em pintura (Phaidon, Londres).
Exposições individuais recentes: Galeria Luisa Strina, São Paulo (2017 e 2014); Alison Jacques Gallery, Londres (2017 e 2013); Peter Kilchmann, Zurique (2015); Centre International de l’art et du Paysage, Vassivière, França (2013); Museu da Cidade, Lisboa (2012). Exposições coletivas recentes: 35º Panorama da Arte Brasileira, MAM Museu de Arte Moderna, São Paulo (2017); OSSO — Exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2017); Doubles, Dobros, Pliegues, Pares, Twins, Mitades, The Warehouse, Dallas (2017); Third Mind. Jiri Kovanda and the (Im)possibility of Collaboration, Galeria Nacional, Praga (2016); Cut, Folded, Pressed & Other Actions, David Zwirner, Nova York (2016); Em polvorosa — um panorama das coleções do MAM, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro (2016); Accrochage, Punta della Dogana, Veneza (2016); Imagine Brazil, DHC/ART, Montreal (2015), Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2015), Musée d’Art Contemporain de Lyon (2014), Astrup Fearnley Museum, Oslo (2013); Impulse, Reason, Sense, Conflict, CIFO Ella Fontanals-Cisneros, Miami (2014); Une histoire, art, architecture et design, des années 80 à aujourd’hui, Centre Pompidou, Paris (2014); 13ª Bienal de Istambul (2013); 30ª Bienal de São Paulo (2012). Coleções públicas das quais seu trabalho é parte incluem Centre Pompidou, França; Tate Collection, Inglaterra; Miami Art Museum, EUA; Fundación/Colección Jumex, México; Fundação Serralves, Portugal; Museu de Arte da Pampulha, Museu de Arte Moderna, São Paulo, e Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil; Museum Weserburg, Bremen, Alemanha; Vancouver Art Gallery, Canadá; Centre National des Arts Plastiques, França; Art Institute of Chicago, EUA.
SERVIÇO
Fernanda Gomes
Curadoria de José Augusto Ribeiro
Abertura: 30 de novembro de 2019, sábado, às 11h
Visitação: 30 de novembro de 2019 a 24 de fevereiro de 2020
De quarta a segunda, das 10h às 17h30 — com permanência até as 18h
Pinacoteca de São Paulo:
Edifício Pina Luz
Praça da Luz 2, São Paulo, SP — 1º andar — galerias temporárias
Ingressos: R$ 10,00 (entrada); R$ 5,00 (meia-entrada para estudantes com carteirinha)
Menores de 10 anos e maiores de 60 são isentos de pagamento.
Aos sábados, a entrada da Pina é gratuita para todos.